sábado, 7 de janeiro de 2012

FAZER JUSTIÇA


Alexandre Aragão


Nesses primeiros dias do ano, em meus momentos de distração, assisti a um vídeo de um graduando em Direito cujo tema era fazer justiça. Assim pensei em escrever algumas poucas linhas, para continuar a costura da minha viagem existencial.

Em primeiro lugar, penso que, para fazermos justiça, precisamos ter o olhar do coração - uma vez que o coração é aquele que comanda a inteligência, como tão bem assinala o psicanalista e educador Rubem Alves - voltado para o Mistério que habita cada um de nós, cuja luz há de ser percebida também no rosto de cada ser humano que está ao nosso redor.

Como decorrência desta primeira decisão interior, parece ser preciso desenvolver a capacidade de sentir o outro como um alguém que faz parte de mim, para aprender a partilhar as suas alegrias e os seus sofrimentos, para intuir os seus anseios e buscar remédio às suas necessidades, oferecendo-lhe uma verdadeira e profunda amizade.

Portanto, trata-se de cultivar a capacidade de ver antes o que há de positivo no outro, para acolhê-lo e valorizá-lo.

Por fim, para fazer justiça é necessário saber “criar espaço” para  desenvolver a reciprocidade humana, que nos capacite a carregar “os fardos uns dos outros”, rejeitando as facilidades egoístas que sempre nos insidiam e geram competição destrutiva, arrivismo, suspeitas, ciúmes.

Sem uma educação da nossa sensibilidade em relação ao outro, como uma verdadeira caminhada ética e espiritual que envolva toda a complexidade da vida humana, de pouco servirão os instrumentos exteriores da justiça. Revelar-se-iam mais como “estruturas sem alma”, do que como vias para a sua expressão e crescimento.

Como diz um pensamento antigo, para fazer justiça precisamos, antes, retirar as traves que existem em nosso olhar, para somente depois podermos enxergar bem – com o coração e com a mente – os ciscos que habitam o olhar do outro.