quinta-feira, 31 de janeiro de 2013

MINHA QUERIDA VOVÓ




Hoje, 31 de janeiro, é um dia muito importante em minha vida. Há 31 anos atrás eu estava em Conselheiro Lafaiete, Minas Gerais, continuando minha caminhada de vida com Olívia, iniciada em Primeiro de Outubro de Mil Novecentos e Oitenta e Um. Naquele 31  vivenciei um evento muito particular, na Igreja de São Sebastião, que não é possível relatá-lo agora, tal sua profundidade. E hoje fui agraciado com uma foto inédita de minha avó Conceição, enviada pelo meu amigo Léo.
Pensei de compartilhar essa minha alegria, transcrevendo um trecho do livro FRATERNIDADE E COMUNHÃO: MOTORES DA CONSTRUÇÃO DE UM NOVO PARADIGMA HUMANO, no qual dedico algumas palavras para vovó.

"Importante também é a presença de minha avó Conceição na minha infância: ela fora, por anos, presidente das Damas da Caridade, e sua modesta casa, até o final de sua vida, sempre fora aberta a todos, principalmente aos empobrecidos.
Entre as idas e vindas com minha avó, uma das coisas que mais me marcou, ainda bem pequenino, foi falar com Dom Hélder Câmara pessoalmente em sua residência. Um momento importante para mim, conhecer pessoalmente uma personalidade que não somente resistia com coragem à ditadura de então, mas que anunciava em seus discursos sempre o amor e a esperança em um mundo novo.
Porém, o que mais eu gostava nela era quando, ainda nos anos 60, chamava-me para contar histórias da vida dos santos. Eu me maravilhava naqueles relatos sobre aquelas pessoas capazes de feitos grandes e imprevistos por amor ao outro: Francisco de Assis, que através da vivência da pobreza, desafiando a mentalidade de então, reuniu em torno a si jovens que ansiavam por um novo sentido de vida, construindo uma obra que dura até os dias de hoje: fundaram, segundo estudos do economista Todeschini (BRUNI, 2006), uma das primeiras experiências históricas de micro-crédito[1] e [2] ; Agostinho, com seu coração inquieto, teve a coragem de redirecionar sua existência, dedicando-a à busca da verdade na filosofia e teologia; Bosco, por amor aos meninos de rua da época, produziu uma pedagogia da presença; Cura D’Ars, através da generosidade do coração mudou a vida de toda uma cidade; Madalena, aquela a quem Jesus ressuscitado apareceu por primeiro.
Em 1971, eu cursava a 5a. série do 1o. grau, aos 10 anos de idade. Em julho desse ano, um imprevisto me fez perder meu pai num acidente automobilístico que lhe foi fatal. Sem dúvida, uma grande referência de minha vida se fora, e eu ainda com tantas perguntas a fazer-lhe, tive de ir procurando respondê-las pouco a pouco, nas pessoas e circunstâncias de minha vida.
Em 1974, com 13 anos de idade, a convite de minha avó Conceição, participei da Mariápolis, um congresso anual do Movimento dos Focolares, em Campina Grande - PB. 
O tema central daquele congresso foi: Deus é Amor. Parecia-me ter encontrado uma possibilidade real de colocar em prática, em dimensão mais ampla, aquele cuidado amoroso pelo outro que eu havia experimentado na minha infância no interior de minha família. De fato, o que mais me marcou naquele evento, não foram tanto as conferências proferidas, mas os relacionamentos entres as pessoas, os fatos concretos expressos nas relações construídas naquela semana, relações de gratuidade, de comunhão, de solidariedade e de fraternidade recíproca inter-pessoais. Os fatos eram mais fortes que as palavras".




[1]      O professor Luigino Bruni (2006) destaca que o franciscanismo com o seu olhar específico sobre a realidade da época, intui e proclama o seguinte: “finchè c’è un povero, la città non può essere fraterna” (enquanto houver um pobre, a cidade não pode ser fraterna). Este é o motivo pelo qual os franciscanos fazem nascer os Bancos da Piedade, as primeiras instituições de micro-crédito para ajudar às famílias necessitadas que não reuniam condições de obter crédito, sendo vítimas dos usurários de então (p.797). A exemplo de Yunus (Nobel da Paz 2006), o carisma franciscano via no pobre não um problema, mas uma potencialidade.

[2]     Paulo Freire (1987) também anota que a experiência da opressão, da marginalização, da pobreza, que em princípio seria desumanizadora – e é desumanizadora -, os movimentos sociais fazem dela resistência e incentivo para formação de valores e politização. É a pedagogia de reagir às limitações impostas à existência humana, para construir processos de humanização. A própria experiência da opressão termina sendo uma matriz formadora de processos de humanização a partir da consciência da desumanização.

quarta-feira, 16 de janeiro de 2013

A BUSCA DA FRATERNIDADE



Alexandre Aragão de Albuquerque



A utopia do humanismo do mercado, como nos lembra Karl Marx na introdução da sua Crítica da Economia Política, foi a de imaginar a construção de uma vida comum entre indivíduos livres e iguais.

De fato, a comunidade antiga não consentia a emergência da diversidade uma vez que a communitas era totalizante, impedindo o surgimento dos indivíduos porque simplesmente não os via, não os considerava. De fato qual era a vida comunitária na Europa antiga, com suas guerras civis e religiosas? Era preciso encontrar uma nova base da vida em comum. Assim nasceu o projeto moderno.

Foi contra este tipo de comunidade baseada no status, na hierarquia e não-liberal (no sentido de que os indivíduos eram impedidos de exercer sua liberdade individual) que a modernidade reagiu. Assim, com a modernidade nascem o indIvIduo e alteridade, mas nasce também outro problema como atesta Tzevan Todorov. Para ele, a dimensão social, geralmente, passou a não ser considerada como necessária para a vida dos humanos.

Por isso a crítica à economia política foi e continua sendo um tema constante nos estudos dos intelectuais humanistas, visto que esta teoria é provavelmente a que mais exprime com toda a sua força o projeto da modernidade o qual se revela plenamente somente se o vemos  da perspectiva dos indivíduos sem a comunidade mediadora, a mercê de outros indivíduos iguais, mas  incapazes de philia  e de qualquer relacionalidade imediata positiva. 

Como atesta o professor Luigino Bruni, os principais frutos que a relacionalidade moderna do mercado produz são simbolizados por dois valores: igualdade e liberdade, principalmente as liberdades individuais. Para negociar com o outro, eu não preciso reconhecê-lo em sua alteridade profunda. O indivíduo moderno despoja as relações humanas de cada elemento  pessoal que revele diversidade e identidades mais verdadeiras, resumindo-se apenas a relacionamentos econômicos. 

Segundo Bruni, a ambiguidade do mercado moderno reside no fato de desfigurar e nivelar a diversidade humana para que se possa negociar com qualquer outro: não importa mais, por exemplo, a fides nem a religio, bastando apenas atender os desejos e necessidades. Esse “universalimo” moderno está longe de formar uma rede de encontros e de reconhecimentos entre os diferentes, mas configura-se numa relação mutuamente indiferente  entre sujeitos tornados homogêneos apenas para viabilizar a troca econômica, sem uma troca vital entre as diversidades.

O mercado foi capaz, com sua extraordinária força inovadora, de colocar lado a lado os indivíduos mas, ao mesmo tempo, de produzir indiferença entre eles e solidão.

Entretanto, segundo o filósofo italiano Antonio Maria Baggio, existe um terceiro princípio da modernidade, demasiadamente esquecido, que atinge mais profundamente os indivíduos em sua humanidade: a fraternidade. Sem ela, a liberdade e a igualdade não podem desabrochar com toda plenitude, uma vez que a fraternidade é sempre uma experiência de encontro entre as diversidades que vai além de uma simples relação de troca econômica.

Não se pode afirmar que os indivíduos são verdadeiramente humanos se a eles lhes é impedido vivenciar relacionamentos que lhes possibilitem encontrar o outro em suas alegrias e dores, de uma forma recíproca. Não se pode impedir aos humanos compartilhar as dores e as alegrias que cada um carrega em suas histórias de vida.

A dimensão ética humana reside justamente na partilha do mundo, identificando nele as manifestações do mal para se buscar soluções em comum para sua superação, capaz de produzirem um bem para todos. Cada ferida produzida pelas estruturas requer dos humanos uma responsabilidade de curá-la. Somente assim a vida pode ser humana. Não adianta ocultar as feridas, como se elas não existissem. É preciso identifica-las para juntos encontrar respostas satisfatórias de sua superação.

A fragilidade é uma condição do humano. Somente se nos reconhecermos todos vulneráveis e frágeis, ou seja, necessitados ontologicamente um dos outros, podemos almejar uma vida mais feliz.

Há um engano que precisa ser superado: o de achar que em nosso isolamento individualista somos capazes de construir uma vida coletiva feliz. A busca exacerbada do bem individual, sem o devido olhar para a condição e fragilidade do outro, leva à solidão e aos diversos tipos de violência, em escala cada vez mais crescente.

É preciso uma nova base comum para superar o mal moderno.


sexta-feira, 11 de janeiro de 2013



A Elegância Profissional



Alexandre Aragão de Albuquerque



No segundo semestre de 2012 tivemos como foco de nossa ação empresarial a busca da excelência profissional. Em cada segunda-feira refletimos com nossos colaboradores e colaboradoras alguns textos que nos levavam a ampliar nossa compreensão da nossa profissão, identificando caminhos que nos conduzem ao aperfeiçoamento de nossos talentos.

Escolhemos como último tema a ser abordado a ELEGÂNCIA.

O que significa ser um profissional elegante?

A elegância é definida como sendo “uma disposição marcada pela harmonia e leveza nas formas de expressão e ação, por meio de procedimentos de cortesia, gentileza, decoro, educação e fineza na escolha das palavras e gestos, e no modo como dispô-los na relação com os outros”.

Esse comportamento é possível de ser detectado. Pessoas elegantes são aquelas que preferem elogiar e não criticar; escutar mais do que falar, principalmente ao evitar assuntos constrangedores e fofocas que sempre têm como resultado a humilhação de quem se fala, que geralmente sempre está ausente e não tem a possibilidade de se defender.

Uma pessoa elegante não joga para plateia, carrega dentro de si esse valor e procura aprimorá-lo dia após dia, pois ser elegante é possuir uma visão generosa da vida, procurando estar nela de forma solidária e afetuosa.

Um profissional elegante não á agitado, é tranquilo. Realiza sua missão com ardor e leveza.

A elegância tem a ver com aqueles pequenos gestos cotidianos. Ela se reveste de três palavras fundamentais: “Por favor”, “Obrigado” e “Desculpe-me”.

Uma pessoa elegante, por meio de sua sensibilidade amorosa, é capaz de perceber o bem invisível existente nas pessoas e nas coisas, reconhecendo os valores que o outro possui como criação de Deus. De fato, o amor é capaz de transformar os corações e as mentes, curar mágoas, sarar cicatrizes.

Consequentemente, ser elegante é saber renascer todos os dias, vendo as mesmas pessoas e coisas sempre com olhos novos.

Ser elegante é saber sorrir. Falar aos outros com simpatia, escutando com atenção o que os outros têm a dizer.  É saber sorrir de si mesmo, sem “descontar” nos outros os problemas que enfrenta, mas sabendo partilhá-los de forma madura, serena e construtiva.

Ser elegante é saber falar suavemente, sem aumentar o tom da voz. É saber a hora de calar. É estar sempre atento ao que ocorre em seu ambiente.

Um profissional elegante é um ser humano sensível, que tem consciência do seu talento e dos seus limites.

Procura aperfeiçoar-se dia após dia, para poder ser sempre mais um ser humano melhor.