Alexandre Aragão de
Albuquerque
A utopia do humanismo do mercado, como nos lembra Karl Marx na introdução da sua Crítica da Economia Política, foi a de imaginar a
construção de uma vida comum entre indivíduos livres e iguais.
De fato, a comunidade antiga não consentia a emergência da
diversidade uma vez que a communitas era
totalizante, impedindo o surgimento dos indivíduos porque simplesmente não os
via, não os considerava. De fato qual era a vida comunitária na Europa antiga, com suas guerras civis e religiosas? Era preciso encontrar uma nova base da vida em comum. Assim nasceu o projeto moderno.
Foi contra este tipo de comunidade baseada no status, na hierarquia e não-liberal (no sentido de que os indivíduos eram impedidos de exercer sua liberdade individual) que a modernidade reagiu. Assim, com a modernidade nascem o indIvIduo e alteridade, mas nasce também outro problema como atesta Tzevan Todorov. Para ele, a dimensão social, geralmente, passou a não ser considerada como necessária para a vida dos humanos.
Foi contra este tipo de comunidade baseada no status, na hierarquia e não-liberal (no sentido de que os indivíduos eram impedidos de exercer sua liberdade individual) que a modernidade reagiu. Assim, com a modernidade nascem o indIvIduo e alteridade, mas nasce também outro problema como atesta Tzevan Todorov. Para ele, a dimensão social, geralmente, passou a não ser considerada como necessária para a vida dos humanos.
Por isso a crítica à economia política foi e continua sendo
um tema constante nos estudos dos intelectuais humanistas, visto que esta
teoria é provavelmente a que mais exprime com toda a sua força o projeto da
modernidade o qual se revela plenamente somente se o vemos da perspectiva dos indivíduos sem a
comunidade mediadora, a mercê de outros indivíduos iguais, mas incapazes de philia e de qualquer
relacionalidade imediata positiva.
Como atesta o professor Luigino Bruni, os principais frutos
que a relacionalidade moderna do mercado produz são simbolizados por dois
valores: igualdade e liberdade, principalmente as liberdades individuais. Para
negociar com o outro, eu não preciso reconhecê-lo em sua alteridade profunda. O
indivíduo moderno despoja as relações humanas de cada elemento pessoal que revele diversidade e identidades
mais verdadeiras, resumindo-se apenas a relacionamentos econômicos.
Segundo Bruni, a ambiguidade do mercado moderno reside no fato de desfigurar e nivelar a
diversidade humana para que se possa negociar com qualquer outro: não importa
mais, por exemplo, a fides nem a religio, bastando
apenas atender os desejos e necessidades. Esse “universalimo” moderno está
longe de formar uma rede de encontros e de reconhecimentos entre os diferentes,
mas configura-se numa relação mutuamente indiferente entre
sujeitos tornados homogêneos apenas para viabilizar a troca econômica, sem uma
troca vital entre as diversidades.
O mercado foi capaz, com sua extraordinária força inovadora,
de colocar lado a lado os indivíduos mas, ao mesmo tempo, de produzir
indiferença entre eles e solidão.
Entretanto, segundo o filósofo italiano Antonio Maria Baggio,
existe um terceiro princípio da modernidade, demasiadamente esquecido, que
atinge mais profundamente os indivíduos em sua humanidade: a fraternidade. Sem
ela, a liberdade e a igualdade não podem desabrochar com toda plenitude, uma
vez que a fraternidade é sempre uma experiência de encontro entre as diversidades
que vai além de uma simples relação de troca econômica.
Não se pode afirmar que os indivíduos são verdadeiramente humanos
se a eles lhes é impedido vivenciar relacionamentos que lhes possibilitem encontrar o outro em suas alegrias e dores, de uma forma recíproca. Não se pode
impedir aos humanos compartilhar as dores e as alegrias que cada um carrega em
suas histórias de vida.
A dimensão ética humana reside justamente na partilha do
mundo, identificando nele as manifestações do mal para se buscar soluções em
comum para sua superação, capaz de produzirem um bem para todos. Cada ferida
produzida pelas estruturas requer dos humanos uma responsabilidade de curá-la.
Somente assim a vida pode ser humana. Não adianta ocultar as feridas, como se
elas não existissem. É preciso identifica-las para juntos encontrar respostas
satisfatórias de sua superação.
A fragilidade é uma condição do humano. Somente se nos reconhecermos
todos vulneráveis e frágeis, ou seja, necessitados ontologicamente um dos
outros, podemos almejar uma vida mais feliz.
Há um engano que precisa ser superado: o de achar que em nosso isolamento individualista somos capazes de construir uma vida coletiva feliz. A busca
exacerbada do bem individual, sem o devido olhar para a condição e fragilidade do outro, leva
à solidão e aos diversos tipos de violência, em escala cada vez mais crescente.
É preciso uma nova base comum para superar o mal moderno.
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