sábado, 18 de dezembro de 2010

A NOVIDADE DO NATAL

Alexandre Aragão


Neste período, apesar do frenesi das ruas e vitrines lotadas de apelos consumistas, temos sempre a possibilidade de parar para refletir um pouco em torno de nossa caminhada como humanidade.

Dezembro é um mês recheado de simbologia, principalmente por suas datas comemorativas, que vai culminar, no mundo ocidental, com a data das datas: o nascimento de Jesus de Nazaré, um jovem carpinteiro que veio apresentar ao mundo uma nova proposta de vida.

Se o desenho da sociedade política de então pode ser representado por uma pirâmide, onde no seu ápice estava o soberano – faraó, rei ou imperador -, detentor de todo poder (uma espécie de “legítimo” representante de deus na terra), e na sua base estava o povo que não possuía um valor, depois de Jesus esta configuração muda. Com a sua revelação de Deus como o Ser que ama a todos os seus filhos e filhas sem distinção, homens e mulheres passam a ser herdeiros, possuidores de realeza em si mesmos pelo simples fato de serem humanos.

Para isso, o jovem carpinteiro coloca em questão valores e procedimentos da Lei mosaica, com atitudes desconcertantes: começa a visitar os publicanos em suas casas; a dialogar com leprosos, prostitutas, estrangeiros e crianças; distribui pães e peixes com os despossuídos; realiza atividades de cura em dia de Sábado, que era a expressão máxima da Lei; anuncia abertamente, em alto e bom tom, que a vida deve ser plena para todos os seres humanos e não apenas para alguns.

Ou seja, começa a colocar novas bases culturais para a construção de uma nova ordem onde todos os homens e mulheres sejam tratados com a mesma dignidade de filhos e filhas do Deus-Amor por ele anunciado.

O jovem carpinteiro, portanto, era portador de uma nova visão de mundo que desestabilizava a visão hegemônica juntamente com aqueles que dela se beneficiavam.

Ele vai mais além: o seu Deus não está distante, mas presente no meio da humanidade reunida em seu nome. De fato lê-se nos evangelhos: “onde dois ou mais estão unidos em meu nome, Eu estou no meio deles”. Portanto, com essa afirmação, Jesus sinaliza para um novo desenho de organização política e social. Não mais piramidal, mas circular, onde a expressão do poder soberano é o resultado da fraterna solidariedade amorosa que circula entre os membros da comunidade humana.

A experiência de vida de Jesus de Nazaré sustenta sua afirmação. Ele não nasceu num palácio imperial, mas numa manjedoura, após haver sido rejeitado pelas hospedarias. Rodeado pela Natureza, e por aqueles que dela cuidam e que com ela realizam sua trajetória existencial (pastores e agricultores), apresenta uma ecologia amorosa como modelo de organizar a vida na terra.

Ele não se coloca acima, mas ao lado da humanidade, em suas dores e realizações: como exilado no Egito, como filho ajudando seus pais no trabalho de carpintaria, como mestre demonstrando com sua reflexão uma nova forma de pensar o mundo. Viveu com absoluta convicção sua fé na revolução de que é capaz o amor, ao ponto de ser condenado pelo modelo piramidal de então.

Na cruz [a pior das condenações] visitou o “último lugar”, igualando-se aos marginalizados, empobrecidos e oprimidos. E no momento extremo de sua vida, sentiu-se abandonado pelo seu Deus. Mas ao entregar seu espírito nas mãos de Dele, realiza plenamente a lógica do amor que vai além de medidas racionais.

Em seu último ato livre mostra ao mundo que a recomposição de qualquer unidade é um ato que requer a capacidade de perdoar sempre. Nele e com ele nasce uma fraternidade verdadeira, porque viveu até o fim aquilo que anunciou.

O exemplo e a mensagem de Jesus de Nazaré nos desafiam a rever nosso compromisso social e político na construção da vida em nossas cidades. Para podermos ter cidades novas, é preciso um compromisso concreto com uma prática política na qual todos - sem exceção - estejam incluídos de forma responsável, participativa, solidária e fraterna.




8 comentários:

  1. Excelente reflexão, Alexandre! Faz-nos ver o quão grande é a revolução do "Filho do Homem" em meio à humanidade que ainda atravessa a mudança que sua mensagem propõe. Não é para menos que me admiro ao ouvir de conservadores cristãos o próprio ódio à palavra "revolução", esquecendo-se que ela foi melhor vivida pelo próprio Cristo.
    Feliz Natal!

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  2. Carleto - Fortaleza, CE19 de dezembro de 2010 às 06:48

    Querido amigo Alexandre,

    Desejo a você e toda a família um Natal de luz e um Ano Novo de saúde e felicidade.

    Carletto

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  3. João Alfredo - Fortaleza, CE19 de dezembro de 2010 às 06:49

    Bela mensagem, Alexandre.
    Muito grato e feliz Natal.
    Abs.,

    João Alfredo Telles Melo
    Vereador Psol Fortaleza

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  4. Leônio Cândido - Fortaleza, CE19 de dezembro de 2010 às 06:51

    Feliz Natal para você e toda a família,

    Abraço,

    Léo

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  5. Caro Aragão.

    Encontro tempo nesse corrido tempo para lhe dizer obrigado pelos escritos que me chegam ajudando a refletir sobre tantas realidades.


    Acordei e descobri

    O ano a terminar

    E naquela correria

    O outro vai começar

    Nesse presente danoso

    Do tempo tão precioso

    Que nem o vejo passar



    Saudações natalinas a toda família.

    Genilson e Família.

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  6. Gostei muito dessa coisa do Carpinteiro. Lembra aquilo que Capinam e Torquato Neto dizem: "El nombre del hombre es pueblo".

    O amor fraterno implica responsabilidade pelo Outro. E como tal é um ato de gratuidade que religa a humanidade dinamicamente.

    Feliz Ano Novo para você.

    Luciana

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  7. Bruno Aragão - Caruaru, PE29 de dezembro de 2010 às 17:45

    Olá, Alexandre

    Obrigado pela mensagem no blog.
    Desejo a vocês um Ano Novo com muita paz e muitas realizações.

    Um abraço,

    Bruno

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  8. HORÁCIO FROTA - UECE, Fortaleza - CE29 de dezembro de 2010 às 17:48

    Amigo Alexandre,
    Feliz Natal!


    Mais uma vez, estamos vivendo o clima, o ambiente, os sentimentos e as emoções de uma grande festa. É Natal. As luzes da cidade já estão acesas. A natureza se veste de gala, ostentando luzes e cores diversas. É o menino Jesus que vem ao nosso encontro procurando, outra vez, um lugar para nascer.

    Vamos abrir espaços em nossos corações e deixemos Deus faça dele a sua morada e realize em nossas vidas seu plano de amor

    Para que, assim, o verdadeiro sentido do Natal não se perca nas trocas de presentes e algumas palavras frias e sem sentidos.

    Aproveito este clima de festa para desejar a você.

    Um NATAL cheio de AMOR ...

    Feliz Natal!

    Horacio Frota

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