quinta-feira, 21 de maio de 2009

MENSAGEM PARA OS AMIGOS E AMIGAS DO MESTRADO

Alexandre Aragão
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Caros amigos e amigas de Mestrado,


Escrevo-lhes estas breves linhas para agradecer-lhes pela participação em nossa apresentação ontem sobre o pensamento conservador de Edmund Burke, na aula de Teoria Política, do professor Josênio Parente. Pessoalmente fiquei muito recompensado pelo tempo dedicado por nossa equipe na pesquisa daquele conteúdo, renovando em mim o empenho por um desenvolvimento intelectual sempre mais competente e responsável visando a colaborar com a busca humana pela construção de uma sociedade mais solidária e fraterna.
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Como sabemos, estudar é um trabalho difícil. Exige de quem a ele se propõe uma posição crítica, sistemática, investigativa, criativa e sensível diante das verdades contidas nos sujeitos e realidades pesquisadas pelos cientistas. Exige uma disciplina intelectual que não se ganha a não ser praticando-a. E sem dúvida quando essa prática é realizada coletivamente, através da partilha dos saberes de cada um de nós, o conhecimento é ampliado, as visões são mais contextualizadas e podemos atingir uma verdade mais plenamente humana capaz de produzir sínteses que contemplem necessidades mais universais e justas. Como afirmava Cícero, sem o exercício efetivo da justiça nenhum pacto político ou social se sustenta.
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Neste sentido, entendemos que um método básico para a pesquisa é o diálogo. Como afirmei no artigo “Diálogo como Método”, dialogar é mais do que conversar. É o esforço humano, através [dia] da comunicação, de penetrar na verdade [logos] do outro para estabelecer um relacionamento que acrescente mais compreensão mútua entre os interlocutores. E ontem, aprendi muito, não só ao pesquisar o pensamento de Burke, procurando colocá-lo em diálogo com outros autores, como Nisbet, Norbert Elias, Tocqueville, Hans Jonas, Marx, como também no debate que foi deflagrado em seguida.
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Uma das perguntas, entre tantas importantes que nos foram apresentadas ontem, que paira no ar, foi elaborada por Edna: afinal somos liberais ou conservadores, quando não somos conservadores somos necessariamente liberais?
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É uma pergunta inquietante, instigante, por que aponta para uma reflexão mais rigorosa, axiológica, filosófica, antropológica, acerca de valores, de nossa compreensão de mundo, nossa compreensão da vida, em seu sentido mais profundo e sobre que direções queremos tomar. Afinal, o fato de sermos cientistas sociais não nos isenta de nossa humanidade. Não somos nem anjos nem demônios. Também, acho que não podemos nos colocar num patamar de sacerdotes da religião científica, pairando acima dos homens comuns. Cientistas são homens e mulheres que detêm um tipo de saber que deve ser partilhado em comum dialogicamente com os outros saberes donde deve nascer respostas para o bem da humanidade.
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Basta pensarmos na vida do planeta. Ela deve ser conservada ou não? Por que? Como?
Esta reflexão nos obriga a perguntar-nos: e a vida humana deve ser preservada ou não?
Por que? Como?
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Foi diante destas duas questões que em meu artigo sobre Burke eu discorri sobre aquilo que denominei o Paradoxo da Geladeira: um invento moderno mas que tem como objetivo preservar os bens naturais e os bens da civilização.
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Portanto, não basta ser moderno. Acho que o novo em si não quer dizer muita coisa. Aliás, Chico Buarque de Holanda já dissera que ser novo é também, e sobretudo, ver coisas velhas por ângulos novos. Assim, é preciso que a construção da novidade seja portadora de elementos que produzam e conservem a vida, mais vida a ser vivida por todos e não apenas por alguns privilegiados. Precisamos, como diz Capra, de um novo paradigma, uma nova visão da realidade, das pessoas, uma mudança fundamental em nossos pensamentos, percepções e valores que sejam centralizados na vida, um bem que está além de todos os outros bens, pois sem vida os outros bens não existirão.
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Para mim, um dos pontos importantes na minha caminhada existencial, é o esforço de (re) descoberta da fraternidade como um princípio que nos (re) liga, numa perspectiva laica, secular, buscando sua origem [uma vez que todo princípio precisa de uma origem] na compreensão da própria palavra. Germanus em latim significa aqueles que possuem a mesma origem. Ou seja, nós possuímos a mesma origem humana, somos todos húmus – terra fértil – e essa origem comum nos une uns aos outros como irmãos [germanus]. Ser humano é justamente o esforço de fertilidade diante da vida: o esforço de produzirmos o bem do qual nos sentimos capazes, mas que muitas vezes os bloqueios pessoais [subjetivos e inconscientes] ou sociais [da relacionalidade humana] tendem a nos impedir. E diante desses obstáculos parece ser importante adotar atitudes reflexivas amplas que nos permitam encontrar a verdade mais profunda para com ela atingirmos um grau a mais de liberdade subjetiva e relacional com a qual nos capacitaremos para superar obstáculos na construção dinâmica de um ambiente feliz para todos e todas.
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Neste sentido, o nosso seminário de ontem sobre o pensamento de Burke e de seus seguidores sugere-nos, no meu entender, uma postura aberta e não preconceituosa diante dos temas relativos à construção da emancipação humana que seja capaz de fazer relações entre as diversas tradições teóricas, procurando colher suas contribuições específicas e a partir delas trabalhar no esforço teórico de elaboração de novas sínteses que visem a contribuir para a humanização da vida social na busca de novos vínculos de convivência solidária, com responsabilidade.
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Segundo Hans Jonas, a responsabilidade é o cuidado reconhecido como obrigação em relação a um outro ser, que se torna preocupação quando há uma ameaça à sua vulnerabilidade e implica a pergunta: o que pode acontecer a ele se eu não assumir a responsabilidade por ele?
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Caríssimos amigos e amigas, agradeço uma vez mais pelo momento de ontem e desejo a cada um de nós uma maravilhosa estrada neste Mestrado.
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Grande abraço,
Alexandre
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4 comentários:

  1. Luiz Carlos Oliveira22 de maio de 2009 às 05:38

    Que maravilha de compreensão, Alexandre. Obrigado pela aula de ontem e por mais esta agora.
    Forte abraço,
    Luiz

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  2. Gostaria de articular e escrever tão bem as idéias quanto você. Mas um dia eu chego lá. Você, sem dúvida, está contribuindo muito para o crescimento da turma com suas colocações sempre pertinentes. A turma é que agradece.

    Karla

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  3. Bela mensagem. Nós é que agradedecemos.

    Diógenes

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  4. Parabéns, Alexandre.

    Josênio

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