domingo, 3 de maio de 2009

O JOGADOR DE BASQUETE

Alexandre Aragão



Finalmente havia chegado o grande dia.

O jogador de basquete estava ansioso para disputar a final do campeonato estudantl estadual, a primeira de sua vida, bem como a primeira final da categoria minibasquete, em 1973. Um futuro que se lhe apontava promissor, já que há apenas um ano havia iniciado a atividade desportiva.

Recolhera-se às 19h00 para dormir. Sabia que uma boa noite de sono era pré-requisito para uma boa perfomance no dia seguinte. Mesmo se a fantasia lhe dificultava abandonar o estado de vigília, o repouso físico lhe relaxaria os músculos.
.
Pensou na Menina: será que ela iria assistir ao jogo? A primeira final, o primeiro beijo... bem que podia aparecer para vê-lo jogar. Mas ele sabia que não seria possível isso acontecer, porque os pais da Menina não aprovavam o encantamento dos dois. Tinham outros planos para ela.
.
Pensou no seu pai: como sentiria orgulho dele com apenas 12 anos disputando uma final. Lá do céu ele acompanharia tudo. E o jogador de basquete adormeceu embalado pela paixão e pela saudade.
.
Na manhã seguinte, acordou bem cedinho, fez sua oração e partiu para o ginásio, acompanhado pela mãe e pelo irmão. Quando lá chegou, assustou-se com a quantidade de pessoas presentes na quadra desportiva. Todos os lugares haviam sido ocupados, fazendo daquela final um acontecimento na cidade.
.
Seria uma disputa difícil, as duas equipes haviam se classificado invictas.
.
No vestiário recebeu, com sua equipe, um uniforme novo nas cores azul, branco e preto, confeccionado especialmente para aquela ocasião. A surpresa provocou-lhe uma entusiasmada alegria em viver aquele sonho. Ficou imaginando quem teria confeccionado com tanto carinho aquela vestimenta sem a qual ele com seus companheiros de equipe não teriam condições de jogar.
.
Na prelação preparatória, o treinador disse-lhes que havia chegado o momento de eles confirmarem o esforço de um ano de trabalho e dedicação. Deveriam, portanto, colocar em prática aquilo que aprenderam, com tranqüilidade e determinação, num profundo respeito pelos jogadores adversários. Além da aplicação técnica, já que seria um jogo difícil pelo excelente nível das duas equipes, eles deveriam jogar com amor, porque só o amor é capaz de fazer a diferença nas situações limites.
.
Durante o aquecimento em quadra, o jogador de basquete não acreditava no que estava vivendo. Como haviam conseguido mover tantas pessoas para aquele momento? Qual seria o significado daquela disputa para elas? Qual a expectativa que pulsava nos corações de pais, parentes, amigos, amantes do desporto, jornalistas, autoridades?
.
Procurou, numa última esperança, com o olhar, localizar a Menina. Ela não estava ali.
.
A partida transcorreu disputada ponto a ponto. Mais do que nunca era preciso integrar todos os conhecimentos e características dos jogadores, através de um diálogo atento que lhes possibilitasse construir e aproveitar as melhores oportunidades de pontuação. Tratava-se de um trabalho em equipe.
.
Num momento em que o treinador solicitara um tempo técnico, ele bebeu um pouco d’água para repor as energias, e pensou: se não fosse aquela água, naquele momento, ele não teria condições de continuar na partida.
.
O treinador alertou para o novo posicionamento que o time adversário havia tomado implicando uma necessária nova disposição do seu time em quadra. Nesse momento, o jogador de basquete percebeu o quanto é importante o diálogo entre os vários olhares diante da realidade, pois os jogadores não tinham conseguido enxergar pelo ângulo de alguém que estava de fora o novo desenho tático em quadra. A mudança foi fatal, porque ele soube explorar, como organizador das jogadas, algumas deficiências da equipe adversária conectando com os potenciais de sua equipe.
.
No final, sua equipe sagrou-se campeã estadual. Mas duas surpresas estavam ainda para acontecer. Na cerimônia de premiação, o jogador de basquete foi eleito o melhor atleta da competição estadual. Em sua simplicidade, jamais imaginou que algo semelhante lhe pudesse acontecer. O prêmio lhe foi entregue por uma atleta integrante da seleção nacional. Além disso, ele havia sido o atleta cestinha do campeonato.
.
Em meio a tanta alegria, lembrou-se do seu pai e, em sua saudade, agradeceu-lhe pelo dom da vida, pela dedicação e pela disponibilidade em acompanhá-lo em sua estrada. Lembrou-se também da Menina, do quanto aquele primeiro beijo havia significado para ele, abrindo-lhe o coração para a beleza do sentimento puro e verdadeiro.
.
À noite, com um sonho realizado, ele voltou a dormir embalado pela saudade e pela paixão.
. 

Nenhum comentário:

Postar um comentário