terça-feira, 26 de outubro de 2010

SAIR DO LUGAR CRISTALIZADO

Alexandre Aragão



Caros jovens amigos e amigas,

Continuando nossa conversa sobre estas eleições, estamos percebendo que não se pode fazer política sem ler a história passada e presente, para buscar construir a história futura. E como vimos, o ideal democrático alicerça-se em tres princípios básicos: liberdade, igualdade e fraternidade. Não são princípios abstratos, devem ser construídos histórica e concretamente. Ou seja, a liberdade deve ser para todos e não para alguns; as condições de igualdade devem ser distribuídas entre todos e não entre alguns.

Como atividade comprometida com o bem comum, alicerçada na história concreta dos indivíduos e povos, cabe à política corrigir as distorções ocorridas ao longo da história na aplicação desses princípios para que os povos tenham uma democracia real e universal numa determinada nação, e não uma democracia abstrata que legitime a desigualdade estrutural entre cidadãos, como denunciava Celso Furtado com o que ocorria entre nós.

É esse compromisso ético com a nossa história brasileira concreta, e não abstrata, que nos permitiu uma nova compreensão da política e do novo rumo a seguir: revisadas as teses liberais que levaram o Brasil ao arrocho salarial, ao desemprego, ao desmantelamento do Estado e ao fundo do poço de nossas reservas cambiais, a sociedade brasileira entendeu que o Estado tinha realmente um papel fundamental na correção das distorções históricas de desigualdade do Brasil. Para isso um novo projeto político precisava alçar o poder para implantar um novo modelo de agir político.
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Portanto, tratou-se de uma nova postura que nos remeteu para a construção de uma nova cultura política. Cada um de nós, pessoalmente e em nossos grupos, foi chamado, e continua sendo constantemente, a rever-se, recompreender-se, resignificar-se politicamente, procurando sair do lugar cristalizado onde eventualmente possamos nos encontrar, para irmos ao encontro da novidade que o Brasil é historicamente convocado a assumir.

Essa nova cultura que está nascendo é o amadurecimento da cidadania, da ação cidadã, da dinâmica dos movimentos sociais.
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Como lembra Wampler, a democracia participativa que emerge no Brasil pode ser conceituada como uma escola na qual os cidadãos adquirem uma compreensão nova sobre a política. A participação dos cidadãos comuns nas decisões cotidianas de seus governos é um momento ímpar, um divisor de águas na política brasileira, mesmo quando um dos candidatos à presidência se mostra explicitamente avesso aos movimentos sociais ao condenar preconceituosamente o trabalho de um movimento social.
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Ao condenar o MST, Serra condena a independência dos movimentos sociais em geral, numa evidente contradição de sua dita proposta de "união nacional", união que já aprioristicamente exclui setores organizados da sociedade civil. Para Serra, o MST é caso de polícia. Hoje é o MST, amanhã que outro movimento social seria excluido por Serra? Os professores, por exemplo, que foram tratados em seu governo estadual com cacetetes?
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Diferentemente, para Dilma, o MST (e todos os movimentos sociais) é caso de política social e diálogo político, de participação. Com ela temos um indicativo de que o processo de democracia participativa pode avançar.
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2 comentários:

  1. Muito Bacana Alexandre, recebi todos os dialogos e li quase todos, fiquei muitissimo feliz, com a clareza e reflexão que as discurssões ocorrem.

    Afirmo, como você disse, que deve haver um congresso, com um tema Democracia Participativa, pois geralmente os jovens neste periodo de campanha, muito deles são induzidos e não tem voz ativa para se expressarem diante do que eles acham, alias, maioria da sociedade.

    Creio que a politica deve ser um espaço construtor de democracia, de igualdade, de justiça e principalmente da soliderariedade e do carisma humano.Onde todos possam ter oportunidades e vistos em olhar de soberania e igualdade.

    Sou jovem tenho apenas 17 anos, estudo serviço social, estou iniciando agora o curso 2º semestre e edificado com as reflexões que foram abertas e socializadas.

    Atenciosamente
    José Filho

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  2. Dorinha Lun a- João Pessoa - PB28 de outubro de 2010 às 06:01

    Oi Alexandre,
    Obrigada pela sua atenção. Vi o seu blog e li o artigo.

    É muito bom ter essa possibilidade de fazer comentários lúcidos pois a internet está cheia de coisas que não se aproveitam.

    Estou acompanhando Iracema em seu período instabilidade na saúde entre hospital e casa e por isso não estou conseguindo me comunicar muito, mas permaneço unida.

    Um Abraço
    Sempre 1''
    Dorinha

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