quinta-feira, 15 de janeiro de 2009

Fabricar a paz

por Alexandre Aragão

Um mês após havermos vencido as eleições para o Diretório Acadêmico da Escola Superior de Engenharia da Universidade de Pernambuco (ex- FESP), no calor dos nossos 20 anos de idade, até então o mais novo presidente da história daquele D.A., em novembro de 1981, realizou-se na Praça do Carmo, na cidade do Recife, a Missa dos Quilombos, concelebrada pelos bispos Dom Hélder Câmara, Dom Pedro Casaldáliga e Dom José Maria Pires.

Em meio a tantas lutas de então, a Missa dos Quilombos foi um fato que deixou marcas profundas em meu ser durante aquele período. Um ato profundamente religioso, repleto de humanidade.

A breve homilia de Dom Hélder prenunciava o novo humanismo que urge acontecer entre nós. Falou-nos a todos os milhares de participantes com a sua típica lucidez profética:

“Mariama, Nossa Senhora, Mãe de Cristo e Mãe dos homens! Mariama, mãe dos homens de todas as raças, de todas as cores, de todos os cantos da terra!
Pede a teu Filho que esta festa não termine aqui: a marcha final vai ser linda de viver! Mas é importante, Mariama, que a Igreja de teu Filho, não fique em palavras, não fique em aplausos. O importante é que a CNBB embarque de cheio na causa dos negros, como já entrou de cheio na Pastoral da Terra e na Pastoral dos Índios.
Não basta pedir perdão pelos erros de ontem, é preciso acertar o passo hoje sem ligar ao que disserem. Claro que dirão, Mariama, que é política, que é subversão... É evangelho de Cristo, Mariama!
Mariama, mãe querida, problema de negro acaba se ligando com todos os problemas humanos, com todos os absurdos contra a humanidade, com todas as injustiças e opressões.
Mariama, que se acabe, mas se acabe mesmo, a maldita fabricação de armas. O mundo, o mundo precisa fabricar é paz. Basta de injustiças, de uns sem saber o que fazer com tanta terra, e milhões sem um palmo de terra onde morar. Basta de uns tendo de vomitar para poder comer mais, e 50 milhões morrendo de fome num ano só. Basta de uns com empresas se derramando pelo mundo todo, e milhões sem um canto onde ganhar o pão de cada dia.
Mariama, Nossa Senhora, mãe querida, nem precisa ir tão longe como no teu hino (Magnificat). Nem precisa que os ricos saiam de mãos vazias e os pobres de mãos cheias: nem pobre, nem rico! Nada de escravo de hoje ser senhor de escravos de amanhã. Basta de escravos! Um mundo sem senhores e sem escravos, um mundo de irmãos, de irmãos não só de nome e de mentira, de irmãos de verdade, Mariama”.

4 comentários:

  1. Mas do que palavras, penso que podem ser um programa de vida!

    ResponderExcluir
  2. Alô Alexandre!!
    Entro no blogger pela primeira vez e logo de cara faço um comentário sobre o seu texto, Fabricar a Paz. Sinto sua vibração positiva toda vez que se refere a Dom Hélder Câmara. Isso é bacana, e construtivo. Parabéns!
    Acredito que Dom Hélder tenha sido o pastor que mais alto levantou sua voz para defender os pobres, excluídos, injustiçados e marginalizados.
    A forma clara como em toda a sua trajetória Ele fez a relação direta, entre pobre e rico, nos seus sermões, discursos e durante toda a trajetória de vida, é impressionante.
    Esse sermão deveria ser muito usual nas igrejas católicas de hoje. Não sei se é.
    Mas também, muito mais do que um discurso, isso deveria ser uma razão de viver de cada um de nós seres humanos. Acredito muito bem que aí está um ramo a ser seguido, se quisermos ser humanistas e solidários.
    Aliás o tempo levou-me a cristalizar a idéia de que tudo isso que inspirou D. Hélder, o seu apoio irrestrito aos pobres, no fundo é a essência da "religião" iniciada pelo de Jesus de Nazaré.
    Mas na seqüência dos séculos nós pouco, quase nada fizemos para transformar esse "protocolo de intenções", em que se transformou a pregação de Jesus de Nazaré, em algo que seja real, concreto, diário e duradouro. Alguém precisa se esforçar nesse sentido.
    Bem Alexandre, aproveito para, 28 anos depois, dar os parabéns pelo evento da Missa do Quilombo, e também pela sua eterna juventude.
    E viva a Missa dos Quilombos!!!
    Paulo Dalla Porta.

    ResponderExcluir
  3. Olha, Alexandre quero fazer minhas as palavras de Paula Dalla" Alo Alexandre", Acho que voce já faz isso de maneira muito concreta por onde voce passa e tambem em quem passa por voce, posso testemunhar isso, como passei a ter mais vontade de fazer mais, pelo o proximo depois de ouvir atentamente seus comentarios, muitas vezes sem a menor intenção, pois isso é sua essencia, precisamos de mais "Alexandres", para sairmos do "Protocolo de intençoes" e partirmos para a ação. Toda unidade. Sandra Vendas

    ResponderExcluir