sexta-feira, 30 de janeiro de 2009

Redistribuir a riqueza

por Alexandre Aragão



Parece haver consenso de que uma das prioridades nacionais é resolver as desigualdades econômicas, uma vez que a modernização conquistada pelo Brasil nos últimos 40 anos não conseguiu reverter o quadro de forte concentração de renda, promotora de pobreza, num evidente desrespeito aos direitos humanos.

As análises da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios 2007 trazem dados bastante significativos. Por exemplo, o coeficiente que mede a desigualdade da distribuição de renda – o índice Gini – apesar de ter diminuído nos últimos anos, continua muito alto. Em 2007 o índice foi de 0,552. Nos países com distribuição de renda mais equilibrada o índice se situa em torno de 0,300 (na Dinamarca o Gini é 0,247). Quanto mais próximo do zero menos desigual é o país. Importante observarmos que enquanto 50% dos brasileiros e brasileiras apropriam-se de 15% da renda nacional, o 1% mais rico da população detém 12,3% da riqueza, valores praticamente iguais para um contingente exageradamente desproporcional.

O Nordeste continua a sofrer as conseqüências históricas do modelo de colonização, concentrando o maior número de pobres, com Renda Familiar de zero até R$545,66 por mês, algo em torno de no máximo R$136,00 mensais por pessoa se considerarmos uma família de apenas 04 membros, lembrando que ali a taxa de fecundidade é bem maior em relação às regiões mais desenvolvidas do país: 49,2% das famílias nordestinas são pobres. Importante entender a pobreza no âmbito familiar uma vez que se trata de uma unidade solidária de partilha da vida.

Redistribuir a riqueza é responsabilidade relativa ao Estado, que deve desenvolver políticas de pleno emprego, de valorização real do salário mínimo e de transferências de renda. Mas é também uma tarefa que cabe a todos os que querem construir um mundo mais humano e solidário.

Sérgio Campelo, proprietário da empresa Portal Tecnologia Ltda., sediada na cidade do Recife, procura desde o início de sua caminhada empresarial “criar um projeto coletivo de empresa”. Um dos fundamentos é a busca de uma distribuição justa da riqueza produzida. A relação das remunerações fixas de todos os colaboradores e sócios não ultrapassa a 5 vezes entre o maior e o menor rendimento. Além disso, ao final de cada exercício fiscal, a empresa promove a distribuição dos lucros, da seguinte forma: 25% de todo lucro líquido é distribuído entre os trabalhadores, 50% é repartido com os sócios e os 25% restantes são destinados ao Projeto Economia de Comunhão, do qual a Portal é integrante. Ele afirma que isso é possível “graças ao relacionamento entre os membros da empresa que procuram antes de tudo construir entre si uma amizade verdadeira, promovendo uma mentalidade comunitária de gerir os negócios”.

O exemplo de Sérgio Campelo vem confirmar que é possível pensarmos relações sociais e econômicas que promovam a solidariedade e a partilha na vida dos membros da cidade, através da criatividade e da coragem de construir novos experimentos que tenham como referência a aplicação efetiva dos direitos humanos.

Como afirmava Dom Hélder Câmara, sem direitos do homem reconhecidos, protegidos e aplicados não há democracia. Sem democracia não existem as condições mínimas para a solução pacífica dos conflitos.

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