segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009

Educar para a mudança

Alexandre Aragão


Direito à educação significa garantir acesso igual de todos os membros da comunidade nacional a uma educação de qualidade, que lhes forme para uma cidadania ativa e solidária. O Estado tem a obrigação de financiar a escola pública, que deve ser democrática e participativa no que se refere à sua gestão, devendo existir como escolas-comunidades, capazes de solucionar os conflitos inerentes à vida social através de uma prática dialógica contínua de mútua compreensão. A escola pública deve ser um espaço para a construção de uma nova cidadania, para a defesa dos direitos humanos, buscando a gestação de um espaço público de decisão estatal, visando a uma sociedade fraterna.

E o que seria pensar a educação na perspectiva de direitos humanos?

Antes de tudo é pensar a elaboração de uma nova cultura fundamentada no respeito à dignidade de toda e qualquer pessoa e no fortalecimento do vínculo solidário social baseado no reconhecimento do outro como um irmão-irmã pela mesma origem humana. Trata-se de uma educação que vise à afirmação dos relacionamentos de gratuidade e reciprocidade, respeitando as diferenças. Requer, portanto, uma mudança radical do nosso pensar, sentir e agir.

Entre as diversas iniciativas podemos citar o MEB – Movimento de Educação de Base – organismo da sociedade civil vinculado à CNBB, que há 47 anos realiza ações diretas de educação popular procurando “contribuir para a promoção integral de jovens e adultos através da formação de camadas populares para a cidadania, buscando trilhar os caminhos de superação da exclusão social”; a associação civil Instituto Paulo Freire, que se constitui numa rede em mais de 90 países, oferecendo consultoria, assessoria e educação continuada, com o objetivo de construir referências eco-político-pedagógicas e instrumentos concretos que viabilizem a realização de uma educação cidadã nas escolas.

Merece ainda destaque a experiência da Escola Santa Maria (ESM), na empobrecida Zona da Mata pernambucana, em Igarassu, com 557 estudantes, mantendo-se através de uma rede de solidariedade à distância, composta por famílias brasileiras e estrangeiras, que assumem as mensalidades dos alunos. O projeto pedagógico da ESM tem como objetivo “a educação integral do homem, procurando formar sujeitos ativos e transformadores, capazes de injetar no mundo em que vivem valores como a solidariedade, a justiça e o amor, estando também mais aptos e preparados para ingressar no mundo do trabalho”. Dez professores atualmente trabalhando na ESM são ex-alunos/as seus. A gestão se dá de forma participativa, integrando os esforços da equipe administrativa, corpo docente e discente, funcionários e famílias dos alunos. Segundo a diretora, “procura-se conduzir a Escola com o olhar que brota de uma fraternidade social realimentada semanalmente”.

O advento de um novo mundo passa necessariamente por uma educação para a mudança de nossa forma de ser, que nos leve a um novo olhar com sensibilidade e responsabilidade as necessidades do outro.

2 comentários:

  1. Caríssimo Alexandre, como é salutar ouvir falar, com muita propriedade do dever ser da educação. Começando do título do artigo. Realmente é preciso educar para mudança e vejo que existem iniciativas fantásticas neste campo embora ainda seja pouco para o muito que tem que ser feito.
    No entanto, meu amigo, eu gostaria de fazer um comentário em relação a essa educação. Existe, a exemplo da sociedade em que vivemos, uma divisão enorme na educação. De um lado o serviço público com suapolítica educativa social, que procura trabalhar elementos de socialização e inclusão de jovens carentes em projetos como oscitados no artigo. Do outro lado, eu vejo uma educação elitista das escolas privadas que não sei se possui essa preocupação com o social, fazendo despertar nestes jovens o desejo de uma sociedade mais justa e igualitária onde seja valorizada a pessoa em sua dignidade, diminuindo a discriminacão e facilitando assim uma cultura de partilha e comunhão que possa efetivamente transformar anossa sociedade.
    É preciso uma educação que promova mudança sim. E esperemos que surjam projetos que estimulem e eduquem os jovens carentes e também que estimulem os jovens das classes favorecidas, pois assim todos juntos poderão contribuir para essa mudança social.

    Fred

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  2. Caro Alexandre,

    Excelente artigo, principalmente porque recheado não somente de metas, mas de experiências exitosas.

    Como se vê, muitos desafios já foram enfrentados e superados, trazendo sementes selecionadas de esperança concreta na construção de um mundo mais fraterno e solidário.

    Parabéns, Alexandre. Toda força! Continue firme, pois as suas palavras, com seu testemunho, está motivando outras pessoas nesta grande e maravilhosas aventura.

    Abração,

    Mauricio Morais de Lima.

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