quinta-feira, 31 de dezembro de 2009

ONDE ESTAMOS?

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por Alexandre Aragão

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Conta-nos a narrativa do livro do Gênesis que à hora da brisa da tarde Deus estava a passear pelo jardim do paraíso. Subitamente não encontrou o homem em seu lugar e imediatamente chamou por ele: “Onde estás?”. Esta é a primeira pergunta dirigida por Deus ao homem. Procurou encontrá-lo em seu lugar, mas ali não estava. Homem e mulher estavam envergonhados por haverem cometido um ato ilícito às escondidas.

O lugar de homem e mulher na criação é o paraíso, o jardim, do qual lhes cabem cuidar. Criados à imagem e semelhança do Criador, compete ao homem e mulher continuarem a obra-prima paradisíaca.

Cuidar significa meditar com ponderação, prestar atenção em, responsabilizar-se, ter muita atenção para consigo mesmo – interiormente e exteriormente – e para com o outro, buscando obter conhecimento dos limites a que se está submetido para que sejam superados sempre de forma consciente, social e ecologicamente responsável. Não é fazer o que se quer, nem tampouco transformar o jardim numa porcada ou num inferno.

A pergunta originária de Deus ao homem persegue-o em toda a sua existência. Ela aponta para a necessidade ética que o ser humano tem de saber onde está em cada momento de sua existência. É um imperativo categórico, pois a responsabilidade sobre a vida do jardim e de seus habitantes recai sobre si. Ninguém pode eximir-se dessa responsabilidade, é um componente ontológico. De nada adianta fugir, isolar-se, esconder-se ou virar a face, afinal o jardim está aí para ser cuidado e produzir, a partir da ação humana, felicidade para os seres humanos de todos tempos-espaços presentes e futuros.

A vergonha e o medo que homem e mulher originais sentem por haverem cometido um ilícito às escondidas recordam continuamente a necessidade que temos de construir nossas relações humanas – interpessoais e institucionais – baseadas na transparência de nossas ações. Somente assim a vida do jardim poderá ter uma garantia de longevidade feliz.

Em 2010 podemos começar mesmo, de verdade, um momento novo em nossas vidas, reeducando-nos para a construção de um bem maior, a partir da conversão dos nossos pequenos-grandes atos do dia a dia, procurando saber sempre onde estamos e se nossas atitudes estão adubando nosso jardim existencial pessoal e social, local e global.

2 comentários:

  1. Oi Alexandre,

    Eu me pergunto muitas vezes onde estou. Onde estou em relação a Deus e em relação ao meu próximo. Chego a conclusão que estou "nu" quando não vejo no outro a presença do criador.Quando penso só em mim e não lembro do nós. Quando não percebo que o imenso jardim sofre devido as ações danosas do homem (inclusive minhas). Legal se perguntar onde estamos e melhor ainda poder responder sem medo: estou aqui, Senhor. Também sem apontar o outro em acusação. O ideal era poder responder:estamos aqui, Senhor. Cuidando juntos do belo jardim que nos deste.
    Feliz ano novo, meu amigo. E obrigado.

    Fred - Natal/RN

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  2. Esse foi mais do que um "grande encontro", que linnndo!
    Alexandre: lembrei da primeira vez que ouvi você e Léo na UNICAP há alguns anos, cantando e emocionando tanta gente... o show está continuando e que legal vê Raoni ...
    E não dá prá ir sozinho, com gente é que se vai.
    Um grande abraço para todos.
    Vale - Espanha

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