segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

Trecho do Prefácio de Brandão no livro Fraternidade e Comunhão: motores da contrução de um novo paradigma humano, de Alexandre Aragão

.
Alguns acreditam que entre a barbárie sempre à espreita de poder retornar, e a injustiça, a desigualdade, a exclusão, que na vida de bilhões de seres humanos são vividas como a fome e a miséria, a dor e o sofrimento, o mundo “é assim e não pode mudar”. Que tal como ele é e evolui, nosso mundo “assim” é o único possível.
.
Outros denunciam de diferentes maneiras tudo o que o “sistema mundo” em sua forma atual, monetarizada e globalizada gerou: não o “melhor dos mundos”, mas talvez justamente o seu oposto. Entre os que pensam assim, existem afortunadamente por todo o Planeta muitas mulheres e homens que acreditam que somos todas e todos nós os responsáveis por nossas vidas e a de nossos próximos; por nossos destinos e pelo mundo em que vivemos. E sabem que não bastam boas teorias e nem apenas ótimos propósitos.

Necessitamos urgentemente de uma reconversão de visões de mundo e de sentidos de vida. De um outro olhar sobre o outro, como um nosso irmão, quem quer que seja. Um outro olhar sobre a vida, nossa grande aventura aqui. E um outro olhar sobre as relações que compartimos entre nós, e entre nós e a vida e a Terra.

Necessitamos reaprender o amor. Entre tantos aprendizados que a cada dia mais nos aparecem com sendo os mais importantes: aqueles que nos tornam indivíduos competentes e competitivos para um mundo que reduz a sociedade ao mercado e as pessoas à mercadoria, precisamos reaprender a gratuidade, a generosidade, a solidariedade, a partilha da vida. De uma vida regida pelo encontro entre pessoas através do amor.

Este não é o caminho utópico da fantasia. Ele é o mais urgente e o mais realista de todos os caminhos que podemos escolher. Além dele, qual outro caminho poderia nos conduzir tanto à nossa própria sobrevivência quanto à realização, passo a passo, de uma humanidade fraterna fecunda e feliz?

Fraternidade e comunhão – motores da construção de um novo paradigma humano, de Alexandre Aragão, foi escrito para somar-se a outros livros e escritos que nos sinalizam este caminho de esperança. Ele nos lembra que a “construção de um novo paradigma humano” - e não apenas intelectual ou científico – não está tanto na descoberta de novos segredos da natureza e da sociedade. Não está apenas na interconexão entre diferentes campos do saber e na criação de novos “pensamentos complexos”. Não está somente em uma nova interação “transdisciplinar” entre as ciências, mas está em algo ainda mais humanamente interior. Algo que existe em nós, dentro de nós. E, em nós, está primeiro no coração para, depois, estar também em nossa mente.

Entre tantos descaminhos da “modernidade líquida”, convivemos hoje em dia com uma série de experiências espirituais, vivenciais, interativas e práticas que apontam para um outro horizonte. A Economia do Dom, a “Socioeconomia solidária”, a Economia de Comunhão, a troca do Produto Interno Bruto pela Felicidade Interna Bruta, e outras experiências que brotam e frutificam entre os mais diferentes recantos do mundo.

A experiência amorosa de encontro com o outro e de serviço ao outro trazida neste livro por Alexandre Aragão, talvez seja pouco conhecida entre nós. Em sua simplicidade cristã, ela nunca aparece como algo que mereca (e nem precisa) sequer alguns minutos de nossa mídia. E, no entanto, aqui está, no Movimento dos Focolares, um dos sinais de amor e esperança mais generosos e consistentes entre nós.

O livro de Alexandre Aragão não deve ser lido como a memória de “mais uma experiência”. Ele é o exato oposto disto. Ao nos apresentar não a história, mas a atualidade viva do que algumas pessoas podem fazer quando se reúnem para tornar a comunhão e a fraternidade algo vivido no dia a dia, Alexandre Aragão – “remando contra a corrente” - nos oferece um livro para ser pensado e também um manual de amor a ser vivido e praticado. Que ele seja lido e relido com este duplo espírito.
.
Rosa dos Ventos, primavera de 2009
Carlos Rodrigues Brandão

Um comentário: